Fiz da cidade
Meu corpo
Nela
Entreguei meus desejos
Minhas vontades
Beijei a boca dos homens
Como se fosse
Seu asfalto
Senti suas valas
Correndo
Nas minhas veias
Como sêmen
Do homem amado
Fiz da cidade
Minha religião
Despachei meus ebós
Feitos de amor e fé
Rodei por suas ruas
Em busca de abraços
De laços
Não tenho paradeiro
Nem governo
Fiz da cidade
Minha poesia
Deitei na cama
Dos infiéis
Bebi seu sangue, sua saliva
Derramei sobre lençóis
Minha alma
Minhas lágrimas
Transformei toda dor
De amor
Em frases sem sentido
Cantei para estranhos
Baladas secretas
Fiz da cidade
Meu tudo, meu nada
E por viver nela
Assim, tão descuidada
Me sinto estuprada
Por aqueles
Que não souberam me amar
Segue meu lamento
Segue meu coração
Destroçado
Como os jardins da praia
Abandonados
Na solidão
quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018
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