terça-feira, 27 de fevereiro de 2018



Não cansa?

Tanta briga
Tanta luta
Pra quê tanto
Pranto
Não cansa?
Ter razão
Sobre tudo
Sem ter dúvidas
Não cansa?
Ser dono
Do todo
Não dividir nada
Mesmo que
Seja pouco
Não cansa?
Ser sozinho
Sem caminho
Carinho
Não cansa?
De ferro de ferro
Ser lâmina
Que corta
O inimigo
O amor
O amigo
Não cansa?


Eu me canso, sempre

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018



Fatalidade
É quando
Um raio
Cai sempre
No mesmo lugar
Ou
Quando
Uma pessoa
Quebra
Seu coração
Duas vezes



Vai passar
Uma, duas
Semanas
Até não sentir
Mais
Sua pele
Cheiro de mato
Misturado com alfazema
Vai passar
Um, dois
Três anos
Até que seus olhos
Fujam
Da minha retina
E se tornem
Uma imagem distorcida
Vai passar
Eu sei
Nem que seja
Por algumas horas
Feito temporal
Em tarde de verão
Até que não sobre
Nada de você
Em mim
Até que não fique
Mais nada
Nem lembrança boa
Ou ruim
Mas vai passar

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018



acordei com
a melancolia
típica
da minha
lua em touro
hoje não tem sol
então
seu sorriso veio
iluminar minha memória
trazendo o gosto
da cerveja
e das conversas
jogadas fora
depois
veio a sensação
de vazio
lembrei que não
foi só papo furado
nem ponta de cigarro
que foi pro lixo
meu coração
em pedaços
sem conserto
jazz
no saco preto
com camisinhas e sonhos
não reciclados
dias assim é melhor
nem existir

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018


Foi num domingo
No meio de um panelaço
Que você me viu pela primeira vez
Disse que eu parecia de Yemanjá
Foi num domingo
Que entrei na sua casa
Você me ofereceu vinho
Perguntou se eu tinha fome
E me ofereceu um lugar pra sentar
Foi num domingo
Que conversamos sobre candomblé
Sobre nossas perdas, sonhos
Reclamou do calor
E me deu um leque de presente
Foi num domingo
Que parada na sua cozinha
Enquanto você preparava pasta
Fiquei te admirando
Mexer nas panelas, nos cabelos
Foi num domingo
Que você olhou nos meus olhos
Pedindo um beijo
Toquei pela primeira vez seu corpo
Sentido meu coração e o seu pulsar
Foi num domingo
Que sentei na sua mesa de jantar
Comi sua comida
Depois deitei na sua cama
E desejei nunca mais sair de lá
Foi num domingo
Que se prolongou até a segunda
Durando um ano inteiro
Entre idas e vindas
Sonhos e desilusões
Começo e meio
Sem final feliz




Março, 2015.

O som do seu violão
Rasgando minha pele
Feito mormaço
Seu braço
Ainda pesa sobre minhas costas
Sinto o cheiro do cigarro
Pela sala, quarto
Seu cheiro
Impregnado nos lençóis
Que cilada
Ter te encontrado, assim
Do nada
E ter feito dos meus dias
Todos seus
Ser tua mulher
Amiga, amante
Desejando somente
Meia hora
Ou um instante
Seu corpo junto ao meu
Morar na sua boca
Feito cigarro de maconha
Te fazer viajar
Esquecer do trabalho
Da sua família
Esquecer de tudo
E ser seu tudo
Era só o que queria
Por tantas vezes
Larguei meus problemas
Meus compromissos
Contas pra pagar
E fui correndo te ver
Desejo
Saudade
Da sua voz de sereia
Me pedindo café e pão
Eu era o próprio vento
Alastrando brasa
Cheia de paixão
Esbarrava nas pessoas pela rua
Torcia o pé nos buracos
De São Vicente e sorria
Admirando a lua
Por tantas vezes
Esqueci da vida
Pra me largar
Na sua sala
Beber seu café amargo
E te amar na sua cama
Ofegante, faminta
Meu coração
Feito escola de samba
Só a espera da sua harmonia
Por tantas vezes
Larguei meus problemas
Esqueci da vida
Me entreguei inteira
Só pra viver
Aquele momento
Só pra viver
Um sonho
Só pra ser
Tua preta
Será possível
O amor sobreviver
No mar revolto
Das emoções
Seguir em frente
Apesar de
Tantos temporais
Será possível
Um corpo
Comportar outro
Não fazer dele cais
Somente abraçar
Suas fraquezas
Suas marcas
Fazer desse momento
Encontro de almas
Será possível
Viver sem tormentas
Longe das armadilhas
De possuir
De dominar
Será possível
Viver uma paixão
E se dar cada segundo
Amar cada minuto
Sem querer guerra
E ter no coração
Somente
A deliciosa festa
Regada a poesia e música
Será então
Utopia
Esperar que haja
No mundo uma sintonia
Que permita encontrar
Alguém que queria
Dividir
Quarto, banho e comida
Não pra querer
Roubar minha paz
Mas pra trazer
Em minha vida
Sons de rios, mar
Brisa entrando pela janela
Será possível?

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018



escrever
sobre tudo
que digo
e você
não quer ouvir

escrever
sobre tudo
que não digo
e que você
insiste
em não ler

Verto mágoas
Pelas ruas
De Santos
Seco
Minhas lágrimas
Chove em mim
Molhando meu corpo
Anoiteço
E a cidade me devora
Me mastiga
Cospe fora
Verto mágoas
Pelas ruas
De Santos
Sou órfã
Sou a amante abandonada
Mulher
Sem rosto
Sem carinho
Essa cidade
Me bebe
Me fode
Me ignora
Até que eu fique seca
Até que eu me perca
Por seus canais

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Acordar
Ver seu rosto na parede
Pedir um beijo
Um abraço
Sonho ou não?
Coração apertado, de novo
Penso nas palavras que não disse
Garganta até fecha
Querendo gritar
Melhor não
Deixa pra lá
Melhor esquecer
Mandar se fuder
Silêncio
Tem que levantar, Ornella
A vida te chama
Tem que dar comida pra gata
Limpar o banheiro
Por roupa no varal
A vida não espera
Mas primeiro
Lave o rosto e vá bater paó
Faça sua prece
A Oxum e Oxalá
Peça Ago
Pelos seus desalinhos
Peça Ago
E siga em frente
Sendo
Água e vento
Esqueça as poesias
Cartas não enviadas
E os telefonemas
Que não dei
Esqueça também
As palavras que não disse
Olhares desviados
Ou quando
Não toquei suas mãos
Esqueça
Se não te abracei com força
Se recusei teu beijo
Se fui embora
Quando me pediu pra ficar
Esqueça tudo
E faça do agora
Todos os momentos
Perdidos
Todas os versos
Não escritos
Agora, digo
Que te amo

sábado, 17 de fevereiro de 2018

A chuva caindo
Soa como lamento
No telhado
Ao meu lado
O café esfria
Enquanto me perco
Olhando sua foto
Impressa na retina
Queria esquecer
Lágrimas brotam
Do meu peito
Escorrendo pelo seio
Que você tanto admira
Vou me diluindo
Querendo morar no seu dia
Ser seu sol
Sua guia
Luz no seu olhar
Sua indiferença, punhal
Corta minha pele
Fere, sem curar
Meu coração é céu cinzento
Nem parece carnaval
Nem parece amor
Onde tudo é permitido
Menos chorar


Das profundezas

Queria verter
As palavras
Afundadas
No meu peito
Fazer
Com que as dores
Ancoradas
Seguissem um rumo
Deixando
Meu coração
Mais leve
Menos duro
Hoje
Nenhuma
Palavra
Suporta
O vazio
Do meu
Coração

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018



Sobre plagiadores

Podem copiar
Mas nunca serão
Carne dura
Coração mole
Peito aberto
Tempestade
Pode colar
Mas não ficarão
Pele preta
Cabeça aberta
Quente
Como vento de Oya
Pode desejar
Mas nunca terão
Brilho de ouro
Peso
Só as escolhidas
São coroas por ela
Oxum no sangue
Oxalá, meu rei
Só existe um caminho
Uma estrada
Só existe
Uma Ornella
Filha de Ondina e Orlando

Fique alerta!

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018



Ainda sentia na pele
O calor do seu abraço
Era tarde da noite
Não havia outro caminho
Além dos trilhos do VLT
Cheio de craqueiros
Ou a ponte dos Barreiros
E seus bêbados
Sigo com fé
Coração longe
Lembrando do quanto
Tenho sorte
Ogum vai na frente, sempre
No meu peito
Sinto o peso do seu corpo
Ainda quente
Forte
Na boca
Gosto de pó e cerveja
Doce, amargo
Mistura explosiva
De tesão e ódio
Segue meus pensamentos
Cruzando
A praça da Santa
Perdida, inquieta
Peço mais um vez
Não solta a minha mão
Outro beijo
Um abraço
Será que existe amanhã
Pra nós?

Não teve..
Fiz da cidade
Meu corpo
Nela
Entreguei meus desejos
Minhas vontades
Beijei a boca dos homens
Como se fosse
Seu asfalto
Senti suas valas
Correndo
Nas minhas veias
Como sêmen
Do homem amado
Fiz da cidade
Minha religião
Despachei meus ebós
Feitos de amor e fé
Rodei por suas ruas
Em busca de abraços
De laços
Não tenho paradeiro
Nem governo
Fiz da cidade
Minha poesia
Deitei na cama
Dos infiéis
Bebi seu sangue, sua saliva
Derramei sobre lençóis
Minha alma
Minhas lágrimas
Transformei toda dor
De amor
Em frases sem sentido
Cantei para estranhos
Baladas secretas
Fiz da cidade
Meu tudo, meu nada
E por viver nela
Assim, tão descuidada
Me sinto estuprada
Por aqueles
Que não souberam me amar
Segue meu lamento
Segue meu coração
Destroçado
Como os jardins da praia
Abandonados
Na solidão

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018



não me preocupa
amor
quem passa
pelo seu corpo
pede ou recebe
seus beijos
que você dá
por fome ou paixão
me importa de verdade
amor
se não é minha
lembrança
que vagueia
na sua retina
se não moro
nos seus sonhos
se se sou
que habita e faz bater
seu coração


2018.


A chuva que bate
Fazendo som de lamento
No telhado
O café esfria ao meu lado
Enquanto olho sua foto
No celular
Lágrimas brotam
Do meu peito
Escorrendo pelo seio
Que você tanto admira
Vou me diluindo
Querendo morar no seu dia
Ser seu sol, sua guia
Luz no seu olhar
Mas a mensagem
Que ainda não foi respondida
Dói na minha carne
Com sua indiferença, punhal
Nem parece carnaval
Nem parece amor
Onde tudo é permitido
Menos chorar


2018.

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018



Quantas coisas deixei
Pelo caminho
Por causa de minhas dores
Livros que parei de ler
No primeiro capítulo
Planos que deixei
Como rascunhos
Amores que larguei
Com medo da rejeição
Tenho dificuldade de aceitar
Os obstáculos
As pedras que surgem
No percurso do rio
Cansam, esgotam
Então deixo a razão
Me levar
Talvez seja esse meu destino
Talvez seja a minha lição
Ser filha das águas
Mas confesso ser tão árduo
Difícil carregar
O peso do mundo
Tendo um coração
Tão imenso
Tão líquido
Como um mar aberto


2018.

sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018



No tempo
Em que tudo era
Certeza
Caminho aberto
Entre ferro e ouro
Tudo tinha gosto
De mel e dendê
Ela andava altiva
Com fé


No tempo
Em que tudo era
Certeza
Suas mãos
Abraçavam o mundo
Não havia lugar
Pra choro, nem tristeza

No tempo
Em que tudo era
Certeza
Sua voz vibrava
A coragem era seu nome
Não havia medo
Em seu olhar

No tempo
Em que tudo era
Certeza
Ela ignorou sua essência
Se jogou no abismo
Nunca mais foi a mesma...

A fábula do pássaro Na gaiola Nunca foi nosso caso Nesse caso Coube mais Aquele dito popular Da abelha Num jardim florido Não tá ma...